A saída do presidente Jair Bolsonaro do partido que o elegeu, o PSL, como está prevista, altera o cenário político para as eleições municipais, com resultados altamente negativos para lideranças nos estados, com perspectiva de deixar isolado o ex-deputado federal Carlos Manato, coordenador da sigla no Espírito Santo. 

Sem mandato e derrotado na disputa ao governo em 2018, ele teria dificuldade em manter as bases do partido depois que Bolsonaro levar com ele a maioria do filiados, como prometeu, segundo matérias na imprensa nacional, colocando-os na União Democrática Nacional (UDN), para onde deve migrar, caso sua filiação seja aprovada. Apesar desse cenário, Manato afirma que continuará ao lado do presidente da República.  

Na próxima semana, o presidente da UDN, o capixaba Marcus Alves, se encontra com interlocutores do presidente, em Brasília, para prosseguir com os entendimentos nesse sentido, iniciados há cerca de dois meses. Ele acredita que até dezembro, quando já estará concluído o registro na Justiça Eleitoral, o projeto se concretize. Mas faz uma ressalva. 

“Se alguém estiver respondendo a processo não entra no partido”, alerta Marcus Alves, que conversou por telefone com Século Diário nesta quinta-feira (10), de São Paulo, sua residência atual, onde a UDN possui representação em mais de 350 municípios, segundo disse, e acrescentou: “Não estamos criando um partido de aluguel”. 

Marcus informou que, independente da filiação de Bolsonaro, a UDN já conta com 30 deputados federais e seis senadores, que ele prefere não revelar os nomes. Mesmo procedimento adotado diante de uma pergunta sobre as denúncias de supostos casos de corrupção envolvendo o senador  Flávio Bolsonaro, o próprio presidente da República e outros familiares. 

“A UDN não tem dono, é um partido conservador, de direita, sério, que não vai tolerar o ‘toma lá, dá cá’ nem qualquer ato de corrupção”, ressalta, e afirma que a avaliação dos pedidos de filiação é feita de forma rigorosa. “Eu sou presidente, mas não o dono do partido”. 

Para ele, haverá esvaziamento no PSL com a saída do presidente da República, com impacto maior nos estados. Ao comentar sobre esse assunto, ele cita o ex-deputado Manato e diz: “Não estou preocupado com isso, pois encaro o resgaste da antiga UDN como um movimento que está acima dessas questões”. 

A dificuldade maior em viabilizar a migração do PSL para a UDN, caso seja confirmada a pretensão de Bolsonaro, atinge quem tem mandato, como é o caso dos quatro deputados estaduais no Espírito Santo, Alexandre Quintino, Capitão Assumção, Danilo Bahiense e Torino Marques, que terão que entrar na Justiça com pedido de justa causa para sair do partido, se assim desejarem. Da mesma forma, a deputada federal Soraya Manato, casada com o ex-deputado Manato

Nesse caso, surge outra questão, considerada complicada pelo advogado Antonio Calos Pimentel, especializado em direito eleitoral. Os suplentes vão querer assumir a vaga, caso ocorra a desfiliação. “E aí, como é que fica?”, pergunta, e aponta para esse questionamento como fator que poderá gerar mais dificuldade. 

Para ele, a situação fica mais complicada para os pré-candidatos a prefeito em 2020, cuja filiação partidária deverá estar regularizada em pelo menos seis meses antes da eleição de outubro de 2020.