O presidente Jair Bolsonaro afirmou no início da tarde deste sábado que não vai dar espaço e nem contemporizar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem chamou de “presidiário”. Lula foi solto na sexta-feira, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que reverteu o entendimento da Corte sobre a prisão após condenação em segunda instância. Bolsonaro, que só havia se manifestado sobre a libertação do oponente político pelas redes sociais, na manhã deste sábado, sem citá-lo diretamente, falou ainda que o petista “continua com todos os crimes dele nas costas.

— A grande maioria do povo brasileiro é honesto, trabalhador, e nós não vamos dar espaço nem contemporizar com um presidiário. Ele tá solto, mas continua com todos os crimes dele nas costas — declarou o presidente, na saída do Palácio da Alvorada.

Na ocasião, Bolsonaro cumprimentou cerca de 20 apoiadores na porta do Palácio e se dirigiu para um churrasco em homenagem ao general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército e atual assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que completou 68 anos na sexta-feira. Antes, ele confirmou que se referia a Lula em uma postagem no Twitter feita mais cedo, na qual falou em “canalha”. Ao ser questionado por jornalistas sobre o tema, afirmou que já havia publicado comentário no Twitter.

“Amantes da liberdade e do bem, somos a maioria. Não podemos cometer erros. Sem um norte e um comando, mesmo a melhor tropa, se torna num bando que atira para todos os lados, inclusive nos amigos. Não dê munição ao canalha, que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa”, escreveu o presidente na rede social pela manhã.

Na mesma publicação, ele compartilhou vídeo de um evento, realizado ontem em Brasília, em que fala que deve parte de sua eleição ao hoje ministro da Justiça, que, segundo Bolsonaro, cumpriu “missão” como juiz. “Ele estava cumprindo a sua missão. Se essa missão dele não fosse bem cumprida, eu também não estaria aqui. Então, parte do que acontece na política do Brasil devemos ao Sérgio Moro. Se for comparara uma corrente, o elo mais forte dessa corrente”, diz Bolsonaro na gravação da cerimônia exibida.

Na festa em comemoração ao aniversário de Villas Boas, em um clube do Setor Militar Urbano de Brasília, Bolsonaro e convidados desfrutaram de um costelão. Uma mensagem do general foi lida antes dos parabéns com brincadeiras sobre o fato de Bolsonaro ter feito mais sucesso que ele durante o evento e sobre a conta do churrasco, que seria enviada ao Palácio do Planalto ou ao comando do Exército.

Na saída, a equipe de segurança do presidente se certificou que um grupo de apoiadores vestidos com roupas vermelhas era realmente bolsonaristas, alertados pelo quarto filho, Jair Renan, de 20 anos. Os simpatizantes então explicaram que estavam na festa de Natal antecipada de uma creche e fizeram com que Bolsonaro segurasse bebês e posasse para fotos com eles.

No retorno ao Alvorada, ele surpreendeu ao pedir para a comitiva parar na Praça dos Três Poderes, onde foi comprar um picolé de chocolate. Pagou R$ 7 pela iguaria e, logo, foi cercado por apoiadores. Uma mulher vestida de vermelho se aproximou e gritou “Lula livre”, mas Bolsonaro não demonstrou qualquer reação.

A Praça dos Três Poderes é o local marcado para um protesto, em menos de uma hora após a passagem de Bolsonaro, organizado pelo movimento “Vem pra rua”, pela prisão após condenação em segunda instância. Bolsonaro já havia dito, anteriormente, ao ser questionado se participaria da manifestação, que iria assistir a jogos do Campeonato Brasileiro a partir das 17h, entre Goiás e Santos, e às 19h, entre Palmeiras e Corinthians.

Após a publicação do presidente na manhã deste sábado no Twitter, Moro também foi às redes sociais. Ele diz lamentar o entendimento do Supremo de rever a prisão de condenados em segunda instância, mas afirma que a decisão deve ser respeitada, seguindo uma estratégia adotada pelo governo de não confrontar o STF.

“Lutar pela Justiça e pela segurança pública não é tarefa fácil. Previsíveis vitórias e revezes. Preferimos a primeira e lamentamos a segunda, mas nunca desistiremos. A decisão do STF deve ser respeitada, mas pode ser alterada, como o próprio Min. Toffoli, reconheceu, pelo Congresso”, escreveu Moro.