Embora número de beneficiados seja relativamente pequeno, estudo constatou que alguns homens ganharam anos extras de vida.
Um amplo estudo clínico para testar um medicamento de imunoterapia mostrou que a droga pode ser eficaz em alguns homens com câncer de próstata avançado.
Os pacientes que participaram da pesquisa tinham parado de responder às principais opções de tratamento.
E o estudo, publicado na revista científica “Journal of Clinical Oncology”, mostrou que uma pequena parcela dos participantes permaneceu bem mesmo após o término dos testes, apesar de ter recebido um prognóstico pessimista antes do tratamento.
Na semana passada, foi divulgado que o mesmo medicamento se mostrou eficaz no tratamento de câncer de cabeça e pescoço avançado.
O que é imunoterapia?
A imunoterapia usa nosso próprio sistema imunológico para reconhecer e atacar células cancerígenas.
Já é usada como tratamento padrão para alguns tipos de câncer, como melanomas — e está sendo testada também como medicamento para muitas outras formas de câncer.
O tratamento parte da premissa de que o desenvolvimento de um câncer promove uma redução da atividade do sistema imunológico, uma vez que as células tumorais não são reconhecidas por ele e começam a crescer de forma descontrolada.
Para superar isso, pesquisadores descobriram maneiras de reverter o processo, ou seja, de ajudar o sistema imunológico a reconhecer as células tumorais e, ao mesmo tempo, aumentar sua resposta, causando a morte das “invasoras”.
O que o estudo descobriu?
A pesquisa mostrou que um em cada 20 homens com câncer de próstata avançado respondeu ao medicamento pembrolizumabe — seus tumores diminuíram ou desapareceram por completo.
Embora o número seja relativamente pequeno, o estudo constatou que alguns pacientes ganharam anos extras de vida.
Outros 19% apresentaram alguma evidência de melhora.
Mas a maioria dos pacientes do estudo viveu em média oito meses usando o medicamento.
O ensaio clínico de fase II, conduzido pelo “Institute of Cancer Research” e pela fundação Royal Marsden, ambos no Reino Unido, contou com a participação de 258 homens com câncer de próstata avançado que não respondiam mais a outras opções de tratamento.
Qual o próximo passo?
As respostas mais satisfatórias foram observadas em pacientes cujos tumores apresentavam mutações nos genes envolvidos na reparação do DNA.
Os pesquisadores estão investigando agora se esse grupo pode se beneficiar mais da imunoterapia em um ensaio clínico mais amplo.
Mas, antes de tudo, será necessário realizar um teste para identificar que pacientes responderão melhor à medicação.
O que os especialistas dizem?
“A imunoterapia apresentou enormes benefícios para alguns pacientes com câncer, e é uma notícia fantástica saber que, até no caso do câncer de próstata, em que não vemos muita atividade imunológica, uma proporção de homens tenha respondido bem ao tratamento”, diz o professor Paul Workman, diretor-executivo do Institute of Cancer Research.
“Uma limitação da imunoterapia é que não existe um teste ideal para selecionar aqueles com maior probabilidade de resposta (ao tratamento).”
“É encorajador saber que testes para mutações na reparação do DNA podem identificar pacientes com maior probabilidade de responder (ao tratamento). Estou ansioso para ver como será o estudo mais amplo que vai ser realizado com esse grupo de pacientes”, acrescenta.
O professor Johann de Bono, oncologista da fundação Royal Marsden, do sistema de saúde público do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês), foi um dos responsáveis pelo estudo.
“Não vemos muita atividade do sistema imunológico em tumores da próstata, por isso muitos oncologistas pensavam que a imunoterapia não funcionaria para esse tipo de câncer”, diz Bono.
“Mas nosso estudo mostra que uma pequena proporção de homens com câncer em estágio final responde (à imunoterapia) e, essencialmente, que alguns desses homens se saíram muito bem de fato.”
“Descobrimos que homens com mutações nos genes de reparação do DNA respondem especialmente bem à imunoterapia, incluindo dois pacientes meus que agora estão tomando o medicamento há mais de dois anos”, completa.
Na semana passada, um outro estudo mostrou que o mesmo medicamento manteve sob controle o câncer de cabeça e pescoço em estágio avançado de alguns pacientes por uma média de dois anos — cinco vezes mais que a quimioterapia.
Ambos os estudos fazem parte de um campo de pesquisa em ascensão que sugere que a imunoterapia pode oferecer esperança a um número cada vez maior de pacientes com câncer.
O que é a próstata?
A próstata é uma glândula do tamanho de uma bola de pingue-pongue, localizada dentro da virilha, entre a base do pênis e o reto.
Sua principal função é fornecer o líquido prostático ou seminal que se mistura com o esperma nos testículos, para que os espermatozoides possam sobreviver e serem expulsos durante a ejaculação.
E o câncer de próstata?
O câncer de próstata se desenvolve quando ocorre crescimento e reprodução anormais de células da glândula.
Uma vez que o tumor se desenvolve, se alimenta dos hormônios masculinos.
No Brasil, é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca) — ficando atrás apenas do câncer de pele não-melanoma.
O número de pessoas diagnosticadas com a doença tem crescido nos últimos anos.
Isso se deve parcialmente ao aumento da expectativa de vida e à evolução dos exames de rotina para diagnosticar o tumor.
Cerca de 30% dos homens com câncer de próstata avançado ou estágio 4 sobrevivem por cinco anos ou mais após o diagnóstico.
Exames de rotina
Ao se aproximar dos 50 anos — ou a partir dos 40, se houver histórico familiar da doença — todos os homens devem começar a fazer exames de rotina para a detecção de câncer de próstata.
De acordo com a Prostate Cancer Foundation, há dois tipos simples e relativamente indolores: o exame retal, em que o médico insere um dedo lubrificado e protegido por uma luva no reto para verificar se a glândula tem um crescimento ou forma irregular; e a coleta de sangue, usada para medir níveis de uma proteína produzida pela próstata — se estiverem elevados, pode ser um sinal de câncer.