É comprovado que a maneira como respiramos pode ajudar a nos acalmar e reduzir o nervosismo
Trabalho, trânsito, família, amigos, compromissos e uma rotina a mil por hora. Desse jeito, não dá, quando você percebe já está com o pensamento desorganizado, se sente agitado e a preocupação se torna constante em sua mente: a ansiedade tomou conta!
Nessas horas, muitos costumam aconselhar para você ter calma, contar até três e respirar bem fundo… E não é que quem diz isso tem razão? “A inspiração está mais conectada com o lado ativo do sistema nervoso autônomo, chamado simpático, enquanto a expiração está mais conectada com o lado calmante do sistema nervoso autônomo chamado parassimpático”, ensina Marcos Rojo Rodrigues, PhD em Ciência do Yoga (Índia) e professor do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (USP). Um estudo feito em 2010 e publicado no jornal da Academia de Enfermagem Coreana comprova esse efeito também.
A fisioterapeuta Camila Montandon, especialista em Terapias Integrativas, mostra que a respiração pode ajudar nesses momentos de duas formas. A primeira é fisiológica, já que o estado de ansiedade ativa áreas do cérebro que estimulam a hiperventilação, ou seja, inalamos o ar com mais rapidez e de forma mais rasa, e o esforço consciente para mudar isso ajuda a acalmar, pois o organismo volta a seu equilíbrio. “Outro ponto está no fato do indivíduo, ao tornar sua respiração consciente, traz sua atenção ao momento presente. Com isso o estado de ansiedade tende a ser minimizado”, acredita Camila.
É possível perceber através da respiração que você está ansioso. “Isso ocorre quando a respiração está muito focada na parte de cima do corpo, e também é mais rápida e curta”, ensina a educadora física Aline Evelyn da Silva, da Clínica Kenzen e especialista em Ioga. Sentir falta de ar também é um sinal clássico de que não estamos respirando como deveríamos, de acordo com Marcos Rojo.
Os especialistas nos ensinam suas técnicas para acertar a respiração, por ordem no corpo e mandar a ansiedade embora.
Respire corretamente
Para Marcos Rojo, PhD em Ciência do Yoga (Índia) e professor do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (USP), não existe uma respiração sempre correta. “A respiração de quem está cansado é diferente da respiração de alguém que está dormindo que é diferente da respiração da gestante. Assim, devemos dar ao mecanismo respiratório todas as condições para que ele faça os ajustes necessários para cada situação”, acredita o mestre em ioga.
Mas o importante é que normalmente a respiração seja feita usando a musculatura do diafragma, ou seja, movimentando o abdômen e não o tórax. “A respiração ideal deve ser mais lenta e profunda com as pausas inspiratórias e expiratórias, livre, leve e natural”, define a fisioterapeuta Camila Montadon, especialista em Terapias Integrativas. Sabendo isso, podemos partir para as técnicas.
Começando pelo básico
Para melhorar a respiração como um todo, vale investir em alongamentos da caixa toráxica e do abdômen, de acordo com o especialista em ioga Marcos Rojo. Tirar momentos para respirar lentamente também ajuda, o exercício deve durar de 3 a 7 minutos e o processo deve ser feito pelo nariz apenas. “Experimente deixar a saída do ar durar um tempo maior do que a entrada. É importante sentir a expansão torácica e abdominal de forma lenta e suave. Tanto faz se você vai sentir expandir primeiro o abdômen ou primeiro o tórax ou se vai expandir tudo ao mesmo tempo”, ensina.
Respire pelo diafragma
Treinar esse tipo de respiração é importante e ajuda a regular o organismo e o sistema nervoso. Mas não adianta ficar expandindo e contraindo o abdômen enquanto respira, e sim respirar lenta e profundamente e observar o próprio movimento. “O diafragma abaixa em sua contração na inspiração, isso faz com que as vísceras sejam projetadas naturalmente para frente, mas não que isso seja forçado. É importante observar se as costelas também se elevam em toda a circunferência do tórax, fazendo com que ele se expanda por inteiro e traga mobilidade e fluidez na estrutura”, ensina a fisioterapeuta Camila. A dica da especialista para fazer isso mais facilmente é alinhar os “hálux” dos pés. Ou seja, unir os dedões do pé em frente ao corpo, exatamente na linha que representa o centro do nosso corpo e manter os calcanhares afastados.
Pratique a respiração abdominal deitada
Antes de dormir, se a ansiedade estiver impedindo o sono de chegar, a especialista em ioga Aline Evelyn da Silva, educadora física da Clínica Kenzen, ensina a técnica para relaxar. “Deitado na cama e com as luzes apagadas, coloque as mãos sobre o abdômen. Vamos contar enquanto respiramos, para criar um ritmo. Podemos inspirar contando mentalmente até quatro e expirarmos no mesmo tempo, sempre pelas narinas”, explica a especialista. Para tornar o exercício mais avançado, pode-se contrair o abdômen na hora de soltar o ar, assim os músculos da respiração são trabalhados.
Pratique a respiração quadrada
Esse tipo de respiração inclui mais do que apenas inspirar e expirar, é feita uma pausa antes de cada uma dessas ações. É chamada quadrada, pois todos os passos são feitos com a mesma duração de tempo. “Deixe o ar entrar em seu corpo, enquanto você conta, lentamente, até três. Segure o ar nos pulmões, sempre contando lentamente até três. Depois, solte o ar lentamente, no mesmo tempo. Após a expiração, mantenha-se sem ar, contando lentamente até três também”, ensina a educadora física Aline. Você pode variar esse tempo também, aumentando-o, mas sempre o mantendo o mesmo.
Pratique a expiração alongada
“Respirar com predominância expiratória poderá acalmá-lo”, ensina Marcos Rojo. Pensando nesse aspecto, Aline oferece uma adaptação do exercício anterior, da respiração quadrada, em que você dobra o tempo em que você solta o ar, no caso contando até seis nesse momento, se você estiver seguindo a risca o tempo ensinado pela especialista. No dia a dia também, mesmo sem as pausas, você pode tentar sempre expirar no dobro do tempo que você inspira, sem as pausas segurando o ar e se mantendo sem ele, caso você sinta que a ansiedade está tomando conta.
Flexão do tronco
De acordo com a fisioterapeuta Camila Montadon, essa técnica é muito simples de fazer e bem relaxante. Para isso, sente-se em uma cadeira confortável e jogue o tronco para frente, apoiando ele nas coxas (você pode colocar uma almofada, se isso o deixar mais confortável). Os braços e a cabeça ficam soltos em direção ao chão. “Como nesta postura o abdômen estará comprimido pelo apoio, o movimento respiratório é levado para as costas. Fique o tempo que se sentir confortável e atenção ao retornar. O movimento de retorno se inicia na lombar e vai subindo vértebra por vértebra, sendo a cabeça a última que se alinha”, ensina a especialista. Lembre-se de manter a coluna sempre reta nesses momentos.
Alternar as narinas
Outra técnica para fazer em qualquer um dos exercícios acima ou no dia a dia para acalmar, é respirar por uma narina de cada vez. “Você inspira por uma e expira por outra, usando o dedo indicador para tampar. Depois, a narina que soltou o ar deve ser usada para puxá-lo, alternando a ordem em cada momento”, esclarece a especialista em ioga Aline. A dica acalma, pois a pessoa acaba focando toda a sua concentração no método e sua aplicação, e também vale para quando o nariz está entupido.