Exoneração do cargo de dirigente do MEC, que dá direito a passaporte diplomático, só foi publicada após a confirmação de que o agora ex-ministro estava fora do país
O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub deixou o Brasil e está nos Estados Unidos, segundo informou na manhã deste sábado seu irmão, Arthur Weintraub, assessor especial da Presidência da República. Ontem, o ex-dirigente do Ministério da Educação (MEC), que anunciou sua demissão na última quinta-feira, publicou nas redes sociais que pretendia deixar o país “o mais rápido possível”.
Weintraub responde a investigações no Brasil por racismo e no inquérito que apura ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Procurado pelo GLOBO, o MEC confirmou que o ex-ministro está nos EUA e acrescentou que ele foi de avião comercial em classe econômica. Ainda de acordo com o MEC, Abraham Weintraub deixou o Brasil na sexta-feira em voo que partiu de São Paulo. Em seu lugar, ficou, de forma interina, o secretário-executivo da pasta, Paulo Vogel.
“Obrigado a todos pelas orações e apoio. Meu irmão está nos EUA”, escreveu Arthur Weintraub no Twitter. A mensagem foi replicada mais de duas mil vezes.
A exoneração de Weintraub foi assinada pelo presidente Jair Bolsonaro neste sábado, em edição extra do Diário Oficial da União, após a divulgação de que o ex-ministro já se encontrava fora do país.
Ele pode ter se aproveitado de uma brecha na ordem determinada pelo presidente Donald Trump que restringiu a entrada de brasileiros nos Estados Unidos, em maio. A ordem fechou as fronteiras americanas para brasileiros, mas abriu algumas exceções como a entrada de funcionários governamentais e de funcionários de organizações internacionais.
Tecnicamente, Weintraub, apesar de ter anunciado sua saída do MEC, ainda era ministro de Estado, com direito, inclusive, a passaporte diplomático, quando viajou.
Além disso, como indicado do governo brasileiro a uma vaga no Banco Mundial, ele poderia alegar seu enquadramento na categoria de funcionário de organismo internacional. Nessa condição, no entanto, ele poderia ser questionado pelo fato de sua ida ao banco ainda não ter sido oficializada.
Mais cedo, Abraham Weintraub já havia feito duas postagens no Twitter indicando que sua localização era a cidade de Miami. Às 8h17 e às 8h37 ele fez postagens nas quais a cidade americana aparecia como sendo a sua localização atual.
A ida de Weintraub para os Estados Unidos foi aventada ao longo de toda a semana e confirmada por ele em um vídeo na quinta-feira em que ele se despediu do cargo. Apoiadores diziam que sua saída do país se devia ao temor de ele vir a ser preso como consequência dos inquéritos nos quais ele é investigado.
Em sua despedida, contudo, Weintraub disse que “passaria o bastão” para o próximo ministro a ser escolhido e que participaria do processo de transição no MEC. Apesar da promessa, o novo comando da pasta não foi anunciado e nenhuma transição foi feita até agora.
Pelas postagens, não ficou claro se ele retornará ao Brasil para fazer transição que ele prometeu no vídeo ou se já ficará nos Estados Unidos para assumir o cargo. Cotado para assumir uma diretoria-executiva no Banco Mundial, em Washington, a indicação ainda precisa ser chancelada.
Na última sexta-feira, Weintraub havia reforçado a intenção de deixar o Brasil, sem explicar as motivações, em uma publicação direcionada ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Nesta manhã, o ex-ministro publicou uma mensagem comemorando a marca de 900 mil seguidores no site, mas não comentou seu paradeiro.
“Aviso à tigrada e aos gatos angorás (gov bem docinho). Estou saindo do Brasil o mais rápido possível (poucos dias). NÃO QUERO BRIGAR! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém, não me provoquem!”, escreveu na última sexta-feira.