Falta de imunizantes da Coronavac pode acarretar em atraso de uma ou duas semanas na aplicação da segunda dose
Diante da falta de imunizantes da Coronvac para aplicação da segunda dose em cidades capixabas, o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, afirmou nesta segunda-feira (26) que o Governo do Estado se esforça para receber doses adicionais da vacina. De acordo com ele, a gestão estadual contatou o Ministério da Saúde solicitando a resolução do problema. O secretário acredita que, caso as doses não cheguem nesta semana, devem ser enviadas no início de maio, podendo haver atraso de uma ou duas semanas na aplicação da segunda dose.”Não é possível afirmar que não há prejuízo da eficácia total, mas acreditamos que uma ou duas semanas não prejudiquem”, diz Nésio, que informa que a possível ampliação de prazo da Coronavac é discutida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A falta de imunizantes para a segunda dose, segundo ele, é porque nas duas últimas semanas a quantidade enviada pelo Ministério da Saúde foi reduzida.
O secretário informa que a escassez ocorre em todo o Brasil. Ainda nesta segunda-feira, afirma, serão divulgados os municípios nos quais há falta de imunizantes para a segunda dose da Coronavac. Ele explicou também que, conforme o critério de distribuição adotado, as doses de AstraZeneca seriam destinadas aos municípios com mais de 100 mil habitantes, pois ter somente um tipo de vacina reduz a possibilidade de aplicação de imunizantes de laboratórios diferentes na primeira e na segunda dose.
Já a vacina com administração mais curta, como a Coronavac, funciona em municípios menores. Entretanto, conforme afirma o secretário, esses critérios não puderam ser aplicados em sua totalidade diante do número reduzido de doses enviadas. “Regularizando os envios, com doses equivalentes, prosseguiremos nessas medidas”, informou.
O subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, afirmou que, mesmo diante da falta de doses da Coronavac em alguns municípios, não é aconselhável se vacinar em outro. “O ideal é se vacinar na unidade de saúde de onde a pessoa mora. Buscar em outra cidade diminui o número de doses para quem mora lá”, explica.
‘Mesmo atrasado é preciso tomar a segunda dose’
A epidemiologista e professora do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Estado (Ufes), Ethel Maciel, afirma que as comprovações científicas apontam que o prazo para aplicação da segunda dose da Coronavac após a primeira é de 14 a 28 dias. “Saiu disso, está no campo da incerteza”, diz. Entretanto, informa, outras vacinas com a tecnologia de vírus inativado, que é a mesma da produzida pelo Butantan, não têm prejuízo na eficácia quando há atraso.
Ela explica que a primeira dose apresenta o vírus ao sistema imunológico, que é ativado. A segunda também informa como o vírus é e faz a proteção durar mais tempo. “Mesmo com atraso, é importante tomar a segunda dose, que garante a eficácia completa da vacina e faz a imunidade durar mais tempo”, destaca.
Ethel recorda que o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazzuello, ordenou que os imunizantes fossem aplicados em primeira dose, não podendo armazená-los para garantir a segunda. Entretanto, o país é dependente de insumos farmacêuticos da China para produção das vacinas. O atraso no envio desse material, explica a professora da Ufes, atrasou a produção dos imunizantes. “O Governo Federal disse que isso aconteceu por questões administrativas, e não diplomáticas, mas acredito que foram as duas coisas”, defende.
A aplicação dos imunizantes em primeira dose, afirma Ethel, foi uma ordem “que veio de cima”. “O Governo Federal fez uma aposta. Tinha que ter pensado na garantia do esquema vacinal. Se tivesse certeza, poderia até fazer o que foi feito, mas não se não tinha o controle do fluxo para gastar a segunda dose na aplicação da primeira”, pontua.