Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

A médica Nise Yamaguchi disse à CPI da Covid nesta terça-feira (1º) que não existiu a minuta sobre mudança de bula da cloroquina. A versão dela contradiz o que disseram o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Barra Torres.

Primeiro a depor, Mandetta disse que viu, em uma reunião no Palácio do Planalto no ano passado, uma minuta de decreto presidencial para mudar a bula da cloroquina. A ideia seria incluir na bula que o remédio é eficaz contra a Covid, o que a ciência já provou não ser verdadeiro. Mandetta afirmou que, na ocasião, Barra Torres rechaçou a ideia.

Barra Torres, em seu depoimento, confirmou que estava na reunião, confirmou a existência da minuta e disse que a ideia da mudança da bula foi defendida por Nise. Ele ainda contou que teve uma reação “um pouco deselegante” ao rechaçar a proposta.

A cloroquina, mesmo ineficaz, é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e aliados como um medicamento do chamado “tratamento precoce”, também não avalizado pela ciência.

Para Nise, não havia na reunião uma minuta para mudar a bula da cloroquina.

“Nessa situação, não houve minuta de bula. Eu não minutei nenhuma minuta de bula. Não existiu ideia de mudança de bula por minuta nem por decreto”, afirmou Nise.

“Não tinha nada a ver com mudança de bula. Era simplesmente o rascunho de como poderia ser disponibilizada uma medicação que estava em falta”, continuou a médica. “Disponibilização da medicação num momento de pandemia”, concluiu.

‘Equívoco’

Questionada pelo relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), se Barra Torres mentiu, Nise respondeu: “Pelo menos ele deveria apresentar a minuta”.

Diante das diferentes versões, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que deveria ser feita uma acareação entre Nise e Barra Torres.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) alertou que Yamaguchi estava fazendo uma acusação “muito grave” de que Barra Torres e Mandetta mentiram à comissão. “Mentir nesta comissão tem penalidade grave”, afirmou o senador.

Nise disse que eles não contaram uma mentira, mas sim cometeram um “equívoco”.

“Foi um equívoco. Não digo uma mentira, de forma alguma. Digo que foi equívoco de informação”, respondeu Nise.