Pedetista começa a ganhar força e destaque nas pesquisas de intenção de votos
Ciro Gomes está vivinho da Silva. Em menos de 1 mês praticamente dobrou de tamanho, saindo de 6%, em 12 de maio, para 10% em 9 de junho, registra a última pesquisa do PoderData. Tem a soma dos votos de Mandetta, João Doria e João Amoedo. Luciano Huck ainda aparece na pesquisa, embora tenha renovado seu contrato com a Globo e não trocará a segurança de um emprego milionário pelas incertezas da política.
Ciro tem feito uma campanha inteligente de uns meses para cá, depois do embarque do marqueteiro João Santana, transformado em réu pela turma de Curitiba e ainda obrigado a ostentar aquele incômodo adereço no tornozelo. Mas depois da desmoralização de Sergio Moro e do desmanche da Lava Jato levado a cabo pelo Supremo, o adereço de João virou um mero detalhe. Já não diferencia o justo do pecador.
A pesquisa PoderData mostra Lula perdendo votos no 2º turno –uma queda de 7 pontos em 2 meses na diferença para Jair Bolsonaro. Nesse retrato do momento, os números refletem a disposição de Bolsonaro para se manter em alta às custas de uma campanha permanente –embora sujeita a acidentes de percurso, como a casca de banana do relatório fajuto do TCU (Tribunal de Contas da União), mas com invejável capacidade de estimular seu eleitorado. No 1º turno, o presidente teria hoje 33% dos votos contra 31% de Lula.
Desde 1978 acompanho todas as eleições no Brasil. Vi Nelson Carneiro derrotar Sandra Cavalcanti e Vasconcelos Torres, candidatos dos militares, e não cantar vitória: “Só dá pra dizer que eu ganhei de verdade quando tomar posse como senador”.
Em 1982, Leonel Brizola arrancou lá de baixo e ganhou a eleição para governador do Rio com 34,1% dos votos, deixando na poeira Moreira Franco, Miro Teixeira e Sandra Cavalcanti. Em 1985, Jânio Quadros derrotou Fernando Henrique na disputa pela prefeitura de São Paulo e desinfetou a cadeira do gabinete, na qual dias antes o adversário posara para fotos.
Jaques Wagner ganhou a eleição para governador da Bahia em 2006 no 1º turno, com 52,8% dos votos e desbancando o favoritismo de Paulo Souto. Jurava que venceria no 1º turno e ninguém acreditava. Ainda naquela 2006, Geraldo Alckmin conseguiu a proeza de ir para o 2º turno contra Lula e perder a eleição com menos votos do que teve no 1º.
Os exemplos são muito e nada é definitivo na política e o caminho está aberto. Ciro escolheu difundir suas propostas em pílulas espalhadas pelas redes sociais e aplicativos de mensagens como Whatsapp e Telegram. Publica vídeos curtos e sem o menor pudor de meter o dedo na ferida, como no que chama Bolsonaro de traidor.
É forte na verve e na virtu, mas só isso não basta. Convive com a vulnerabilidade de ser um candidato com baixa audiência nas redes sociais, se comparado a Lula e Bolsonaro. Tem 1,2 milhão de seguidores no Twitter, outros 1,1 milhão no Instagram, 925 mil no Facebook e 285 mil no YouTube. É pouco.
Só no Twitter, Bolsonaro tem 6,7 milhões e Lula outros 2,5 milhões. Ciro vai precisar engrossar esse caldo, porque não existe mais campanha eficiente sem redes sociais. Elas são a chave da mobilização e da persuasão.
O problema de Ciro é a ansiedade; e talvez João Santana, como bom e hábil baiano, consiga descarregar um pouco essa pilha. Anda preocupado demais em mostrar ao respeitável público que é melhor que Lula e Bolsonaro, porque, como ele mesmo argumenta em um dos seus vídeos, “nunca me acusaram de ser corrupto e nem de ser incompetente”.
Ciro reconhece que errou no passado, pisou no tomate dando declarações machistas e, no mínimo, incômodas para sua então companheira Patrícia Pilar. Diz isso olhando nos olhos da sua atual cara metade Giselle Bezerra, como quem pede desculpas, alegando evolução, a maturidade transformando para melhor um homem de 63 anos. O fio desencapado de ontem virou o disjuntor de hoje. Será?
Ciro e seus 10% ainda não são uma novidade. Ele já teve essa intenção de voto no fim do ano passado. Poderá vestir o manto da novidade na medida em que consiga conquistar seu eleitorado alvo, os nem-nem, aqueles que não querem votar nem em Lula e nem em Bolsonaro.
Precisa transformar seus 10% de apoio numa corrente de mobilização, o que não é tarefa fácil, mas também nada tem de impossível. Bolsonaro e Lula se seguram na ponta às custas de um eleitorado freneticamente mobilizado, alimentado à base de palavras de ordem, atos de rua, muito barulho nas redes sociais e humor regado a memes para todos os gostos.
O perfil eleitoral de Ciro revelado na pesquisa indica que ele tem uma maioria de eleitores homens –entre eles, chega a 12%; contra 9% das mulheres. O grupo mais denso dos seus apoiadores reúne eleitores entre 25 e 59 anos, pessoas em idade produtiva e integrantes da maior parcela do eleitorado. É mais popular no Centro Oeste e no Norte, regiões onde Bolsonaro tem alta performance.
Isso chama a atenção, indicando que, neste momento, Ciro pode estar beliscando Bolsonaro onde ele é mais forte. Embora tenha mais votos entre os eleitores com ensino fundamental (11%), Ciro consegue 21% entre os que ganham de 5 a 10 salários-mínimos, empatado com Lula, que ali guarda 23% das preferências.
Ciro nasceu por acaso em Pindamonhangaba (SP). É cearense de corpo, alma e DNA. De paulista mesmo só a certidão de nascimento. O Ceará é um estado que nos deu 2 presidentes sem votos: José Linhares e Humberto de Alencar Castelo Branco. O 1º chegou lá pela sorte de estar comandando o Supremo Tribunal Federal em 1945, quando Getúlio foi deposto. Os militares decidiram que ele ficaria na presidência até a posse do vencedor das eleições de 2 de dezembro de 1945.
Morou no Catete por 3 meses, deslumbrou e virou piada: entrou Linhares e saiu Res, porque perdeu a Linha, tantas foram as sinecuras distribuídas a amigos e parentes. Castelo liderou o golpe de 1964, derrubou João Goulart e inaugurou o regime militar. Presidiu o país de 1964 a1967 e morreu num acidente de avião 4 meses depois de deixar o poder.
Vivo e precisando de uma alquimia capaz de deixá-lo ainda mais vivo, com seus 10% virando 20% ou até 30%, Ciro tenta furar o bloqueio e entrar no jogo comendo pelas beiradas. Precisará de muito fôlego, paciência e perseverança para crescer e chegar em outubro de 2022 vivinho da Silva, sobrevivente de uma campanha que se insinua violenta em todos os sentidos.
E se Deus quiser e o padre Cícero ajudar, provar o gostinho de entrar para a História como o 1º político do Ceará a virar presidente pelo voto popular.