O empresário e suposto lobista Marconny Ribeiro afirmou, durante depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (15), que mantém uma relação de “amizade” com Jair Renan Bolsonaro, o filho “Zero Quatro” do presidente Jair Bolsonaro. Disse ainda que buscou ajudar Jair Renan a criar uma “empresa de influencer”.

Marconny foi convocado após a comissão obter mensagens nas quais há indícios de que ele elaborou um “passo a passo” para fraudar uma licitação para a compra de testes para a Covid em benefício da empresa Precisa Medicamentos. A CPI suspeita de que Marconny atuou como lobista para a Precisa.

Senadores veem indícios ainda de que Marconny teve ingerência em indicações em cargos na área de saúde, como o Instituto Evandro Chagas, vinculado ao Ministério da Saúde.

O indicado de Marconny foi preso em outubro do ano passado no âmbito de uma Operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) que apurou corrupção no órgão.

Aos senadores, Marconny afirmou que conhece Jair Renan Bolsonaro desde que o filho do presidente se mudou para Brasília, há cerca de dois anos, e que se aproximou dele por meio de amigos em comum.

Ele disse ainda que apresentou a Jair Renan um advogado tributarista para que ajudar o filho do presidente a abrir a empresa. Marconny negou manter negócios com Jair Renan.

“Ele queria criar uma empresa de influencer, e aí eu só apresentei ele para um colega tributarista que poderia auxiliar na abertura dessa empresa”, afirmou. A empresa do filho do presidente, de fato, acabou sendo formalizada com o apoio do indicado de Marconny, o advogado William Falcomer.

O escritório de Jair Renan funciona em um camarote no estádio Mané Garrincha – em dezembro do ano passado, o local foi palco da festa de aniversário de Marconny.

O suposto lobista também confirmou aos senadores que o filho do presidente esteve “três ou quatro vezes” em seu apartamento. De acordo com senadores, mensagens do celular de Marconny obtidas pela CPI indicam que houve reclamações do síndico do prédio por causa das festas realizadas durante a presença de Jair Renan.

“A ilegalidade não está na festa. A ilegalidade está no que se consegue nas festas, porque se elucida, com muita clareza, por que vale a pena contratar um Marconny. Porque o Marconny diz que não conhece senador, o Marconny não é advogado, o Marconny não entende de contrato, não entende da administração pública. Mas o Marconny é um cara que vai para o churrasco com a advogada do presidente e que faz sua festa de aniversário no camarote do filho do presidente”, afirmou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

Outras ligações

À CPI, Marconny Ribeiro disse conhecer outras pessoas próximas à família presidencial – entre elas, Ana Cristina Siqueira Valle, a ex-mulher de Bolsonaro, e Karina Kufa, advogada do presidente em causas na Justiça Eleitoral.

Sobre Cristina Valle, Marconny disse que a conheceu por meio de Jair Renan. Já sobre Kufa, afirma que ela é uma “amiga”.

O suposto lobista confirmou ainda que conheceu o ex-secretário da Anvisa Ricardo Santana durante um churrasco na casa de Kufa. Depois disso, conforme indicam mensagens apreendidas no celular de Marconny, ele e Santana negociaram o “passo a passo” para fraudar uma licitação em andamento no Ministério da Saúde de testes rápidos para a Covid-19.

Santana já depôs à CPI da Covid. Ele foi convocado após ter participado de jantar no qual teria havido pedido de propina em troca da aquisição de vacina, conforme foi denunciado pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti.