No texto, Renan Calheiros atribui 11 crimes a Jair Bolsonaro e propõe indiciamento de 63 pessoas, entre as quais ministros, ex-ministros, filhos do presidente, deputados e médicos.

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), demonstrou contrariedade nesta segunda-feira (18) com a divulgação antecipada, sem conhecimento prévio dos demais integrantes da comissão, de trechos do parecer final do relator Renan Calheiros (MDB-AL).

No texto, Renan Calheiros atribui 11 crimes ao presidente Jair Bolsonaro e propõe o indiciamento de 63 pessoas, entre as quais ministros, ex-ministros, filhos do presidente, deputados, médicos e empresários. A leitura do relatório para os integrantes da comissão está prevista para esta quarta-feira, 20 (vídeo abaixo). No dia 26, será votado pela CPI.

Para Omar Aziz, os indiciamentos já divulgados agora devem ser mantidos, sob pena de os demais integrantes da CPI virem a ser acusados de tentar proteger alguém com eventuais mudanças.

“Tudo que saiu na imprensa, volto a repetir, eu vou exigir que ele mantenha no relatório. Porque ele não vai jogar e depois tirar. Vai tirar por quê? Por que o açodamento em vazar?”, indagou Omar Aziz.

O presidente da CPI, porém, afirmou que “não há racha” entre os integrantes da comissão.

“O objetivo é o mesmo. Há uma divergência de encaminhamento. E eu tenho o direito de não ter gostado disso. Até porque o mesmo trabalho que ele teve, eu tive durante seis meses. Todos trabalhamos juntos para construir o relatório”, declarou o senador.

“É ruim querer jogar os colegas que estão há seis meses trabalhando nisso… E dizer: ‘Olha, eu quis [os indiciamentos], mas eles não quiseram’. Isso que é ruim […]. Para que não haja nenhum tipo de desconfiança, eu irei votar o relatório [conforme foi divulgado]. E peço para o senador Renan não retirar nada”, acrescentou.

Omar Aziz também demonstrou preocupação com a possibilidade de que alguns indiciamentos propostos pelo relator não tenham o devido embasamento, o que fragilizaria a denúncia e poderia colocar a perder, segundo ele, o trabalho da CPI.

“[Preocupa] você tipificar uma coisa e essa tipificação cair no primeiro momento por falta de conteúdo. E aí colocar tudo a se perder. Esse é meu medo. É quando você faz uma denúncia frágil em cima de uma coisa que você está colocando sem um embasamento técnico e isso cair. Isso que me preocupa”, afirmou.

Aziz disse ainda que “pirotecnia” não condena ninguém, mas não especificou quais possíveis indiciamentos avalia que não deveriam ser levados adiante.

Um dos pontos controversos é a acusação de que o presidente Jair Bolsonaro teria colaborado para genocídio de indígenas.

Para Aziz, a divulgação antecipada dos trechos do relatório deixa os demais integrantes da comissão com a impressão de que nada têm a contribuir.

Ele afirmou ainda ser contrário à retirada dos indiciamentos propostos pelo relator, mas disse que a comissão ainda pode fazer acréscimos ao que já foi divulgado.

Renan Calheiros nega vazamento

Relator da CPI, Renan Calheiros negou ter vazado informações e disse que as posições que contemplou no relatório “são públicas” e, por isso, não podem ser motivo de surpresa.

“Estou como sempre estive à disposição para conversar. Essas posições que eu coloquei no relatório são públicas. Há 20 dias, eu fiz questão de declarar que 11 tipos penais, em função de condutas criminais, tinham sido selecionados, há 20 dias, de modo que isso, na hora que vaza, não pode surpreender ninguém”, afirmou.

De acordo com o relator, o “vazamento” de partes do relatório “ensejará o debate” em relação aos temas sobre os quais existam divergências.