A pesquisa Ipespe divulgada hoje (íntegra aqui), com entrevistas realizadas entre os dias 25 a 28 de outubro de 2021, reforça três grandes dinâmicas que outros levantamentos já haviam apontado.

São elas: 1) é a economia, estúpido; 2) esvaziamento da terceira via; 3) terceira via tira votos de Bolsonaro (e de outros candidatos alternativos).

Vamos analisar cada uma delas.

Segundo a Ipespe, 44% dos entrevistados apontaram temas econômicos como temas mais importantes a serem tratados pelo próximo presidente. Alguns desses temas econômicos, como “fome/miséria”, andavam distantes dos primeiros lugares do ranking. Hoje, a fome/miséria é quarta maior preocupação dos eleitores, sendo que os três primeiros são parecidos: inflação e custo de vida, saúde e desemprego. Corrupção é preocupação hoje de apenas 6%. Violência, de 3% dos eleitores.

A segunda dinâmica é o esvaziamento das candidaturas alternativas, também chamadas de “terceira via”, e a consolidação impressionante de um cenário extremamente polarizado.

As intenções espontâneas de voto são aquelas onde o entrevistador não oferece nenhuma lista de candidatos. O eleitor marca o nome que prefere “espontaneamente”. É um indicativo emblemático do grau de decisão do eleitor, e do nível de conhecimento dos candidatos.

Segundo a Ipespe, a evolução da espontânea mostra Lula crescendo sem parar desde que voltou ao jogo político, e atingindo 31% ao final de outubro de 2021.

Em abril de 2021, quando recupera seus direitos políticos, o petista tinha 21% dos votos espontâneos, contra 25% de Bolsonaro.

Hoje Bolsonaro permanece com 24% de votos espontâneos, o que revela forte resiliência de seu eleitorado, apesar das pesadas denúncias de que teria sido negligente e negacionista durante a pandemia, e dos graves problemas econômicos vividos pelos brasileiros hoje.

Todos os outros candidatos, por outro lado, somam apenas 7% de votos espontâneos, o que sinaliza uma estagnação desse campo, pois é um percentual que vem desde abril de 2021.  Importante destacar que essa estagnação acontece enquanto caem os votos indecisos, mostrando uma tendência desses eleitores de se distribuirem entre os dois principais candidatos, ao invés de se espalharem pelos alternativos.

Na pesquisa estimulada, observa-se um quadro igualmente já detectado em outros levantamentos, com Lula batendo numa espécie de teto eleitoral, em torno de 40%.

No caso da Ipespe, 42% para o cenário 1,  e 41% para o cenário 2, o que não seria suficiente – na conversão em votos válidos – para uma vitória no primeiro turno.

Bolsonaro também parece ter encontrado seu teto, mas com uma desvantagem em relação a Lula, que é sua rejeição mais alta. Bolsonaro tem 28% no cenário 1 e 25% no cenário 2.

Ciro Gomes se mantém relativamente isolado em terceiro lugar, no cenário 1, com menos candidatos, mas se desidrata no cenário 2, mais fragmentado.

Terceira dinâmica: terceira via tira votos de Ciro e Bolsonaro

E aqui entramos na terceira dinâmica revelada por essa pesquisa. Os candidatos alternativos disputam votos entre si, e com Bolsonaro, não com Lula.

A entrada de Moro, sobretudo, avança sobre Bolsonaro, que perde 3 pontos, e sobre Ciro, que perde 2.

O histórico da avaliação do governo Bolsonaro pode ser visto pela ótica das notas (ótimo, bom, regular, ruim e péssimo) e pela aprovação. Há diferenças entre as duas maneiras de ver, pois quem dá nota regular se divide entre aprovar ou não aprovar o governo.

Na avaliação por nota, temos 24% que deram nota ótimo/bom ao governo, 20% que o qualificaram como regular e 54% como ruim/péssimo. Outros 2% não sabem.

Quando se avalia a aprovação/desaprovação, 64% o desaprovam, 30% o aprovam e 7% não sabem.

Por aí se vê que, dos 20% que dão nota regular ao governo, uns 6% migram para o bloco de apoiadores do governo, quando confrontados por uma resposta binária (apoia ou não apoia), 10% migram para o bloco de oposição, e o resto vai para os indecisos.

Conclusão

A pesquisa Ipespe aferrolha mais um parafuso no caixão da terceira via. Os números deixam claro que os eleitores nem-nem (ou seja, que não votam em Lula ou Bolsonaro) estão estruturalmente divididos, com pouca chance de se reunirem num nome único.

Os eleitores de Ciro não votam em Moro, nem em Dória, nem em qualquer outro candidato que não seja Ciro. Os eleitores de Moro, por sua vez, dificilmente migrariam para Ciro. Os números mostram que a presença de Moro na eleição tira votos de Bolsonaro e Ciro, mas quase nada de Lula.

Ou seja, a terceira via está numa situação parecida a de um homem preso em areia movediça: quanto mais tenta se salvar, mais afunda. Nenhum candidato consegue chegar sequer à metade do segundo colocado, Bolsonaro. Mais importante: a pontuação deles na espontânea é medíocre. Há um ano antes da eleição de 2018, Bolsonaro já tinha 9% na espontânea, porém com mais de 15% entre homens, além de já ser o líder de voto entre famílias de classe média. Hoje, nenhum candidato alternativo se destaca em nenhum segumento.

Bolsonaro, por sua vez, permanece incrivelmente firme. Ele perde votos de um lado, mas ganha de outro, mantendo um eleitorado estável em torno de 25% a 30%, que é mais ou menos sua taxa de aprovação.

Tudo indica que a eleição de 2022 será uma espécie de referendo sobre o governo Bolsonaro. Essa é a dificuldade dos candidatos alternativos. Os eleitores de oposição tendem a escolher o nome mais forte para vencer o presidente, que é Lula.  E os que desejam manter as coisas como estão, tendem a votar em Bolsonaro.