A Polícia Federal informou nesta segunda-feira (14) que “não procedem” as fake news que circulam desde o fim de semana sobre uma “nova versão” para a história da suposta facada sofrida por Jair Bolsonaro na reta final da campanha eleitoral de 2018. De acordo com reportagem de Rubens Valente, no portal UOL, as autoridades ouvidas por ele classificaram como “invenção completa” o boato lançado nas redes. Segundo as novas notícias falsas sobre o caso, a PF teria colhido novo depoimento de Adélio Bispo de Oliveira, preso desde então pelo atentado. Nele o autor teria responsabilizado o PT pela “encomenda” do crime. Seguidores de Bolsonaro, a começar por seus familiares, se encarregaram de fazer a “notícia” correr.

O ataque ocorreu em 6 de setembro de 2018. O então candidato fazia campanha para a eleição presidencial nas ruas de Juiz de Fora (MG). Após a ocorrência, Bolsonaro retirou-se de vez dos debates eleitorais. O ex-capitão, que já se negava a participar das discussões públicas com os demais candidatos, conseguiu, desse modo, se ausentar até o final da campanha. Uma semana antes, tinha em torno de 20% das intenções de voto. Duas semanas depois, se aproximou de 30%, até chegar no primeiro turno liderando com 36%. No segundo turno com Fernando Haddad, Bolsonaro se manteve fora dos debates.

Agora, diante das pesquisas que cada vez mais apontam para uma derrota nas urnas para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a facada volta a ser assunto nas redes bolsonaristas. Em sua live na última quinta (10), o presidente ter sinalizou saber de “um novo acontecimento que vai nos salvar no Brasil”.

Fakes presidenciais

A mentira, relata o jornalista Rubens Valente, foi primeiro divulgada no sábado (12) num perfil anônimo hospedado no Twitter. “Nesta segunda-feira atingiu escala entre os assuntos mais comentados naquela rede social no Brasil.”

Adélio está preso desde setembro de 2018 em uma cela da Penitenciária Federal de Campo Grande. A Polícia Federal concluiu, após encerrar as investigações sobre o atentado, que ele agiu sozinho. Diagnosticado repetidas vezes como portador de transtorno mental, Adélio é considerado pela Justiça Federal como inimputável, isto é, incapaz de responder pelos seus atos. Assim, ainda que houvesse um novo depoimento de Adélio, como afirmam as fake news divulgadas pelos bolsonaristas, sua fala jamais poderia ser usada como prova diante de sua incapacidade mental.

Também nesta segunda, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste sobre relatório em que a PF aponta atuação do presidente Bolsonaro na disseminação de notícias falsas. Nesse caso, sobre as urnas eletrônicas. Praxe no STF, o procedimento dá à PGR 15 dias para concluir se há ou não elementos para denunciar o presidente da República.

Fakeada?

Documentário de dezembro de 2018 levanta dúvidas sobre a maneira como teria ocorrido o ataque de Adélio Bispo a Jair Bolsonaro. A Facada no Mito foi postado no canal True Or Not, no YouTube, e se espalhou também por meio das redes sociais. O trabalho não identifica seus autores e praticamente não traz imagens inéditas do episódio. Mas traz apontamentos minuciosamente elaborados em torno das cenas que antecederam à facada. Em câmara lenta, mostra o comportamento da equipe de segurança e levanta questões relacionadas à “logística” em torno do autor. Relembra, ainda, dúvidas em torno do atendimento e contradições em torno das reações de pessoas próximas a Bolsonaro.

Bolsonaro e Adélio – uma fakeada no coração do Brasil, produzido pelo jornalista Joaquim de Carvalho, do Brasil 247, é outro documentário que traz à tona diversas pontas pontas soltas no episódio.

Em novembro de 2021, a PF retomou as investigações sobre Adélio Bispo, lembra reportagem do Brasil de Fato. Neste passo estava prevista a análise de dados bancários e do celular de Zanone Manuel de Oliveira, principal advogado de Adélio. À época, o delegado da PF Rodrigo Morais Fernandes também confirmou que vai apurar as informações fiscais e as imagens do circuito interno de TV do escritório de advocacia onde trabalha Zanone.

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) autorizou a reabertura do inquérito, arquivado desde 2019.