O governo Bolsonaro surpreendeu até aliados nesta sexta-feira (25), ao exonerar o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Gustavo Maiurino, e nomear Márcio Nunes de Oliveira para o cargo. É o quarto diretor-geral da corporação sob o atual governo. A nomeação já foi inclusive publicada no Diário Oficial da União, assinada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Oliveira é o número dois do Ministério da Justiça, hoje chefiado pelo ministro Anderson Torres. Não se sabe qual o motivo da substituição. Mas, nas últimas semanas, a delegada da PF Denisse Dias Ribeiro irritou profundamente o Palácio do Planalto e o clã Bolsonaro, ao concluir em relatório que Jair Bolsonaro teve participação “direta, voluntária e consciente” no vazamento de um inquérito sigiloso divulgado por ele mesmo em suas redes sociais, em agosto de 2021. A atuação do presidente foi, portanto, criminosa.
A policial escreveu ainda que o chefe do governo, assim como o deputado Filipe Barros (PL-PR), cometeram crime de violação de sigilo funcional. No final de janeiro, Bolsonaro ignorou ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e não compareceu ao depoimento à Polícia Federal sobre o caso. Ele seguiu orientação da Advocacia-Geral da União (AGU) e do ministro da Justiça, para os quais o chefe do governo não era obrigado a comparecer por ser investigado no inquérito.
Delegada se afasta
Considerada rigorosa e séria, a delegada Denisse se afastou das investigações sobre as milícias digitais porque recentemente entrou em licença-maternidade. Foi substituída pelo delegado Fábio Alvarez, que já atuava com a titular nos mesmos inquéritos.
O primeiro diretor-geral de Bolsonaro foi Maurício Leite Valeixo, demitido em abril de 2020 “a pedido”. Em seu lugar entrou Rolando Alexandre de Souza, que ficou no cargo por um ano. Maiurino era da confiança de Bolsonaro, mas parece também não ter agradado a chefia. Houve ainda outro indicado ao cargo, Alexandre Ramagem, mas sua nomeação foi vetada pelo mesmo ministro do STF Alexandre de Moraes em abril de 2020.
Bolsonaro é acusado de interferir na PF de acordo com seus interesses e de sua família. Na famosa reunião de 22 de abril de 2020, ele reclamou da “putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família”. E prometeu interferir na corporação.