Em raríssima entrevista – talvez a única que concederá à imprensa durante todo o período eleitoral –, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TER-ES), José Paulo Calmon Nogueira da Gama, saiu em veemente defesa da lisura do sistema eleitoral brasileiro e da confiabilidade das urnas eletrônicas usadas desde 1996 no país. O desembargador classificou o discurso de candidatos que tentam colocar em xeque o processo eleitoral como um “jogo político” e um “exercício de retórica” visando a criar “uma base para eventual derrota”.

“Isso pode ser uma base para eventual derrota ou algo assim. O importante é o seguinte: nós temos um complexo, temos a Justiça Eleitoral, o Ministério Público, a Polícia Federal, os órgãos de Segurança Pública, todos eles com o mesmo papel: o de dar segurança ao eleitor. Agora a urna não serve? Pode ser violada? Isso não existe”, refutou o desembargador, em sabatina a jornalistas, logo após o lançamento do Núcleo de Combate aos Crimes e à Corrupção Eleitoral (Nucoe), no auditório do Pleno do TRE-ES.

Pouco antes, em sua fala de encerramento da cerimônia, Nogueira da Gama assegurou: “Acredito piamente que nenhuma intercorrência abalará aquilo que existe. Daremos as respostas imediatas a qualquer tipo de desvio de conduta por parte de partidos, de candidatos, de pessoas que possam lançar dúvidas em relação à lisura do nosso processo.”

Conforme salientou o desembargador na conversa com jornalistas, “está mais que comprovado, inclusive cientificamente, que as urnas são muito seguras. Nesse aspecto, acho que está faltando um convencimento maior à sociedade de que elas são plenamente confiáveis, na medida em que não têm contato algum com o mundo externo”, admitiu.

Nos últimos tempos, a sociedade brasileira tem assistido a discursos de algumas autoridades, principalmente da autoridade máxima da República – o presidente Bolsonaro –, colocando em xeque justamente a lisura e a confiabilidade do sistema eleitoral, do sistema de apuração e contagem de votos e das urnas eletrônicas.

Poderíamos dar inúmeros exemplos, mas, para ficarmos no mais extremo, em julho o presidente chegou a reunir dezenas de embaixadores de outros países, no Palácio do Planalto, para alegar, sem nenhuma prova, supostas fraudes eleitorais, reiteradamente desmentidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Trata-se de uma narrativa que pode atrapalhar precisamente esse trabalho de “convencimento” das pessoas, referido pelo presidente do TRE-ES, quanto à segurança do sistema de votação e apuração, na medida em que ajuda a disseminar suspeitas infundadas, causando uma desnecessária instabilidade no processo eleitoral.

Na opinião de Nogueira da Gama, porém, o TSE tem respondido a contento a esses ataques:

“O próprio ministro Luiz Edson Fachin, presidente do TSE, vem respondendo a esse tipo de questionamento. E vem respondendo muito bem. Existem equipes que estão lá atuando no sentido de demonstrar a confiabilidade da urna. É um exercício de retórica, e não sei a quem isso interessa… Mas o TSE está respondendo bem. E me parece que, aqui no Estado, nós não temos nenhum tipo de questionamento. Todos os resultados, até hoje, nunca foram rechaçados, nunca foram questionados.”