O primeiro pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente eleito, na noite deste domingo (30), foi um apelo à conciliação, após uma campanha que “colocou frente a frente dois projetos opostos de país”. Em aproximadamente 25 minutos, Lula mostrou saber das dificuldades que o esperam a partir de 1º de janeiro. Mas afirmou que a vitória foi de “um imenso movimento democrático, acima dos interesses pessoais e das ideologias”.
Em todo o pronunciamento, Lula citou apenas quatros nomes: das senadoras Simone Tebet (MDB-MS) e Eliziane Gama (Cidadania-MA), do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), seu vice, além de Fernando Haddad, que não conseguiu se eleger governador de São Paulo. Falou em paz, democracia e oportunidade. “Vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, não apenas para os que votaram em mim. Somo um único povo. Este país precisa de paz e união. Este povo está cansado e enxergar no outro um inimigo. É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas.” O presidente lembrou que as cores verde e amarela pertencem a todos.
Combate à fome
Ele apontou como “compromisso mais urgente” de seu futuro governo, mais uma vez, acabar com a fome. E insistiu na convivência “harmoniosa e republicana” entre os três poderes. “Ninguém, absolutamente ninguém está acima dela”, afirmou, referindo-se à Constituição. Também anunciou o retorno das conferências nacionais temáticas, “para que os interessados elejam suas prioridades”, independentemente de filiação partidária, além da recriação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão. “Decisões não serão tomadas em sigilo.”
Lula não fez referência nominal ao atual presidente, mas falou sobre as dificuldades enfrentadas na campanha. “Nós enfrentamos a máquina do Estado brasileiro, colocada a serviço do candidato da situação”, afirmou. E também lembrou, indiretamente, do período em que foi preso. “Tentaram me enterrar vivo, mas eu ‘tô’ aqui. Estou aqui para governar este país numa situação muito difícil. Com ajuda do povo, vamos encontrar uma saída pra que este país volte a viver harmonicamente, (…) para que a gente possa construir o mundo de que nós precisamos”. Segundo ele, “a roda da economia vai voltar a girar”, com apoio a pequenos produtores rurais e a micro e pequenos empreendedores. E com a inclusão da população pobre no Orçamento.
‘O Brasil está de volta’
O pronunciamento de Lula também teve espaço para a política externa. “O que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil. O Brasil está de volta. O Brasil é grande demais para este papel de pária.” Ele falou ainda em “credibilidade” para retomada dos investimentos estrangeiros em reindustrialização e em nova governança global. “Vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia. O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva.”
O presidente eleito também citou o papa Francisco, que falou em combate à violência e à intolerância. Disse que o maior ensinamento de Jesus foi o amor ao próximo e que “a maior virtude de um bom governante será sempre o amor pelo seu país e pelo seu povo”.
“Sei a magnitude da missão que a história me reservou e sei que não poderei cumpri-la sozinha”, disse Lula no final do discurso, pedindo união. “O Brasil tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar este país. A nossa luta não começa e não termina com eleição. O Brasil é a minha causa, o povo é minha causa.” Ele chegou à Avenida Paulista, em São Paulo, por volta das 22h40. Uma multidão o aguardava.