A credibilidade das lideranças políticas brasileiras sempre esteve sob intenso escrutínio, especialmente em momentos de crises e escândalos. Em 2005, o país foi abalado pelo escândalo do mensalão, uma operação de compra de votos parlamentares para assegurar apoio ao governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, a alegação de Lula de que desconhecia o esquema foi recebida com ceticismo pela população e pela oposição, que consideravam improvável que um esquema de tamanha magnitude envolvendo pessoas de sua mais estreita confiança pudesse ter ocorrido sem seu conhecimento. Essa desconfiança permanece viva até hoje, deixando um resquício de dúvida no imaginário coletivo.
Avançando para o presente, vivenciamos um cenário semelhante com as investigações sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2024, quando os Três Poderes foram alvo de atos de vandalismo e agora, o conhecimento de uma minuta de tentativa de golpe. As investigações apontam para a possível participação de assessores próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro, mas seus apoiadores insistem que ele não tinha ciência dos eventos. Assim como no passado, surge novamente a pergunta: é realmente possível que um líder desconheça ações tão graves conduzidas por seus subordinados diretos, especialmente tendo como objetivo a manutenção de sua gestão?
Esse dilema nos leva a uma reflexão sobre a parcialidade que permeia o julgamento popular e político no Brasil: será que defendemos a verdade ou apenas a nossa verdade? A velha história “dois pesos duas medidas” ganha aqui um sentido perturbador, revelando o quanto nossas crenças pessoais podem obscurecer nossa capacidade de avaliação crítica.
É imperativo que, como sociedade, superemos a hipocrisia e adotemos uma postura coerente e honesta diante dos fatos. Precisamos deixar de lado as paixões partidárias e exigir responsabilidade e transparência de todos os envolvidos em crimes políticos e civis, independentemente de quem esteja no poder. Somente assim poderemos fortalecer a democracia e caminhar rumo a uma política baseada na ética e na justiça, não na conveniência e na lealdade cega.
Este é o é o primeiro texto de uma série de publicações chamada “sociopapo”.
Helton Souza
Assistente Social
Mestre em Política Social
@heltonsouza95