Pela primeira vez na história, o Censo Demográfico do IBGE trouxe dados oficiais sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil. Os números revelam uma realidade que exige atenção e políticas públicas mais eficazes: 2,4 milhões de pessoas já receberam diagnóstico de TEA no país, o que corresponde a 1,2% da população. No Espírito Santo, o cenário segue a tendência nacional, com uma crescente demanda por atendimento especializado, especialmente nas áreas de educação e saúde.
Autismo no Brasil: prevalência maior entre meninos e crianças
Segundo os dados divulgados nesta quinta-feira (23), a prevalência do autismo é significativamente maior entre homens (1,5%) do que entre mulheres (0,9%). Em números absolutos, são cerca de 1,4 milhão de homens e 1 milhão de mulheres com diagnóstico confirmado por um profissional de saúde.
A faixa etária com maior concentração de casos é a de 5 a 9 anos, com 2,6% das crianças diagnosticadas com TEA. Essa incidência reforça a importância do diagnóstico precoce e da inclusão escolar como estratégia de desenvolvimento e qualidade de vida.
Espírito Santo: dados locais revelam urgência por ações estruturadas
Embora o IBGE ainda não tenha divulgado recortes municipais completos, estimativas baseadas no percentual nacional indicam que cerca de 50 mil capixabas podem ter diagnóstico de TEA. Estudo anterior do Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCE-ES) já havia alertado para a carência de políticas públicas adequadas no estado.
O perfil predominante dos estudantes autistas na rede pública estadual é composto majoritariamente por meninos (78,7%), negros (52,2%) e crianças de 6 a 14 anos, concentradas no ensino fundamental. O número de alunos com TEA matriculados tem crescido anualmente, pressionando o sistema educacional, especialmente pela falta de profissionais especializados e salas de recursos multifuncionais.
Rede pública de saúde atende mais de 3.500 autistas
Na saúde, o Espírito Santo conta com cerca de 3.500 usuários em tratamento contínuo para TEA, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). A rede estadual possui serviços organizados para diagnóstico e acompanhamento, com destaque para os Centros de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) e Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), que oferecem atendimento multiprofissional.
Apesar disso, muitas famílias relatam dificuldades no acesso a terapias como análise do comportamento aplicada (ABA), fonoaudiologia e terapia ocupacional. A fila de espera por avaliações diagnósticas também é uma realidade em diversos municípios.
Inclusão escolar avança, mas desigualdades persistem
Outro dado que chama atenção no Censo é a taxa de escolarização das pessoas com autismo: 36,9%, superior à média da população geral (24,3%). No Espírito Santo, apesar do aumento no número de matrículas, a maioria dos estudantes com TEA está concentrada no ensino fundamental e enfrenta desafios para avançar ao ensino médio ou à universidade.
Segundo especialistas, o baixo percentual de autistas no ensino superior (0,8% no Brasil) reflete barreiras de acesso, falta de adaptações curriculares e ausência de políticas institucionais inclusivas.
Próximos passos: planejamento, investimento e empatia
Com a publicação dos dados detalhados por município prevista para os próximos meses, o Censo 2022 servirá como ferramenta essencial para o planejamento de ações mais efetivas voltadas ao público com autismo. No Espírito Santo, o desafio será transformar os números em políticas públicas que garantam dignidade, acessibilidade e inclusão para milhares de capixabas neurodivergentes.