O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, entregou ao embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman, a carta dos Governadores pelo Clima, que será destinada ao presidente norte-americano Joe Biden, durante videoconferência realizada na tarde desta terça-feira (20). A carta foi assinada por 24 chefes dos Executivos estaduais e será enviada ainda esta tarde ao presidente Joe Biden pela Embaixada dos EUA no Brasil.
Também participaram do encontro virtual, os governadores Mauro Mendes (Mato Grosso), Helder Barbalho (Pará) e Paulo Câmara (Pernambuco), que falaram sobre a importância da Carta e das ações em conjunto dos chefes dos Executivos estaduais. O articulador do Centro Brasil no Clima (CBC), Sérgio Xavier, também participou.
Durante sua fala na videoconferência, Casagrande, que articulou a assinatura pelos 24 governadores, destacou o protagonismo dos estados e ressaltou a importância da união com os Estados Unidos sobre o tema. O objetivo da Carta é impulsionar a regeneração ambiental, o equilíbrio climático, a redução de desigualdades e desenvolver cadeias econômicas de “menos carbono” nas Américas.
“Estamos entregando formalmente essa carta ao embaixador. É uma ação importante que contou com a assinatura de 24 governadores, formando uma manifestação robusta. Estamos propondo parcerias em busca do equilíbrio ambiental, bem como a diminuição da emissão de carbono e da pobreza. Estamos vivendo um momento de muita gravidade e de emergência climática que altera o meio ambiente e aumenta a pobreza, afetando justamente quem é mais vulnerável”, pontuou Casagrande.
O capixaba prosseguiu: “Foi com alegria que vimos a ascensão do presidente Joe Biden, um entusiasta do tema. Pela primeira vez os governadores se colocam como protagonistas de forma internacional e esperamos que possamos trabalhar em parceria, Brasil e Estados Unidos, com o objetivo de criar a maior economia de descarbonização do mundo. Que possamos ter um canal direto e permanente com os EUA e que possamos ampliar para outros, pois o tema é de interesse mundial”, disse.
O embaixador dos EUA, Todd Chapman, se mostrou feliz com o protagonismo dos governadores e ressaltou que enviará a carta ainda nesta terça-feira à Casa Branca.
“O tema é importante e que estamos discutindo juntos há décadas. O momento político e econômico que vivemos é fundamental. O que esse grupo de países pode fazer juntos para proteger o planeta e ao mesmo tempo se desenvolvendo. Esse tema interessa diretamente ao presidente Joe Biden. Os próximos dias serão muito importantes e estou muito feliz em receber essa carta, mostrando como essa coalizão dos governadores, que estão comprometidos em encontrar soluções. A iniciativa é muito boa e confio nas autoridades locais. Tenho um compromisso com os Estados e acredito que já falei com todos. Vamos encontrar novas maneiras de trabalhar e vamos ver esse desafio como uma grande oportunidade econômica. O Brasil pode ser a superpotência mundial no meio ambiente. Vou mandar essa carta hoje à tarde ao presidente Joe Biden”, declarou o embaixador.
Além do Espírito Santo, assinaram a carta os chefes dos Executivos do Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Sergipe, São Paulo e Tocantins.
A articulação destaca quatro pontos:
(1) A criação da “maior economia de descarbonização do mundo” entre os Estados Unidos e o Brasil, integrando a maior capacidade de investimentos do planeta, representada pela economia americana, com a maior base florestal da Terra (somando Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e Pampa), criando referências práticas para a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, a partir de créditos de descarbonização (CBIOs) e créditos de carbono, acelerando a transição da economia mundial para um modelo carbono neutro.
De acordo com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), com a atração de investimentos, o setor empresarial brasileiro tem a expectativa de certificar 1,5 bilhão de toneladas de CO² por ano, 300 vezes mais do que é feito hoje, gerando cerca de 45 bilhões de dólares.
Os Estados brasileiros têm enormes capacidades de contribuir com a captura de emissões globais através de programas de preservação de matas nativas e reflorestamento de baixo custo, combinados com o aumento da ambição da NDC nacional (metas voluntárias do país no Acordo de Paris), a redução da pobreza, o desenvolvimento de novos arranjos bioeconômicos e o fortalecimento das comunidades indígenas.
(2) Desenvolvimento de Planos Integrados e programas de capacitação para que os recursos investidos no Brasil, com foco na regeneração florestal, impulsionem rapidamente e consolidem cadeias econômicas sustentáveis.
É possível criar canais estruturados e descentralizados para viabilizar ações em larga escala, em múltiplos pontos do território brasileiro, possibilitando a proteção de vegetação nativa; a restauração de áreas degradadas; a inclusão de comunidades locais com capacitação planejada e geração de muitos empregos; e a incorporação de empresas, em diversas cadeias econômicas verdes, integrando as economias do Brasil e dos EUA, nos eixos de bioeconomia, bioenergia, agricultura de baixo carbono, energias renováveis, promovendo práticas sustentáveis de comércio internacional.
(3) Uso de mecanismos já disponíveis para aplicação segura e transparente dos recursos internacionais, garantindo resultados rápidos e descentralizados (fundos estaduais, integração com iniciativas não governamentais e novos arranjos institucionais com menos burocracia e maior impacto).
(4) Integração de todos os Biomas brasileiros no esforço de reflorestamento, regeneração ambiental e desenvolvimento socioeconômico regional, ampliando a ambição da NDC do Brasil, despertando nova cultura ecopolítica e criando oportunidades de um efetivo desenvolvimento inclusivo e sustentável em todos os Estados. O Brasil pode ampliar o verde da Terra não apenas na Amazônia, mas também em biomas de grande capacidade de captura de carbono e inestimável biodiversidade, como o Cerrado, a Mata Atlântica, a Caatinga e o Pantanal – que perdeu grandes áreas em incêndios em 2020.