O PM confirmou à CPI da Covid ter recebido pedido de propina em negociação de vacinas; o sigilo do celular foi derrubado pela comissão.
Horas depois de o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), anunciar a retirada do sigilo de mensagens do celular de Luiz Paulo Dominguetti, começaram a vir à tona conversas mantidas pelo policial militar. Na semana passada, o PM confirmou à comissão ter recebido um pedido de propina em uma negociação de vacinas com o Ministério da Saúde.
Parte das conversas foi obtida e publicada pela revista Veja. Em uma delas, Dominguetti, que se apresenta como operador da Davati Medical Supply, sinaliza ter acesso a informações provenientes do gabinete do presidente Jair Bolsonaro. É o que indica um diálogo com o CEO da companhia, Cristiano Carvalho.
Após comunicar o chefe sobre uma negociação de vacinas, Dominguetti diz que a fonte das informações é o “Gabinete da Presidência da República”. Antes, Carvalho havia questionado se a origem da informação seria o “coronel Blanco”, ao que Dominguetti respondeu com “melhor que ele”.
Conforme os diálogos obtidos por Veja, Dominguetti também afirmou que Carvalho conseguiria um encontro com Bolsonaro. “Estão viabilizando sua agenda com o presidente”, disse o policial ao CEO da Davati.
O presidente da República é citado em outra conversa, mantida entre Dominguetti e uma pessoa identificada como Renato. “Ontem o Amilton falou com Bolsonaro, ele falou que vai comprar tudo”, disse o interlocutor ao PM, possivelmente em referência a vacinas.
A análise das mensagens ainda revelou que o grupo representado por Luiz Paulo Dominguetti negociou vacinas com empresas, como a Havan, do bolsonarista Luciano Hang. Em 31 de março deste ano, Dominguetti escreveu a Cristiano Carvalho: “Pessoal da Havan e do MT estão no meu pé para fechar, mas sem este não avança”.
A decisão de derrubar o sigilo do celular foi tomada por Omar Aziz após a apresentação de uma questão de ordem do senador Rogério Carvalho (PT-SE), titular da CPI. O celular de Dominguetti foi retido pela comissão na quinta-feira 1, durante o depoimento prestado pelo PM.
Os senadores optaram por apreender o aparelho e encaminhá-lo para perícia após Dominguetti reproduzir um áudio em que o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) negociaria a compra de vacinas com a Davati. Miranda, no entanto, diz que o áudio é antigo – de outubro de 2020 – e se refere a uma compra de luvas.
Luiz Paulo Dominguetti foi convocado pela CPI a depor após afirmar, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que recebeu pedido de propina de 1 dólar por dose de vacina, em negociação com o Ministério da Saúde. Segundo ele, o então o diretor de Logística da pasta, Roberto Ferreira Dias, cobrou a propina em um encontro em um shopping de Brasília em 25 de fevereiro.