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Flip: Rosa Montero diz que publicar livro salvou sua vida – 03/08/2025 – Ilustrada

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A escritora, jornalista e ensaísta espanhola Rosa Montero, 74, retorna à Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, 21 anos depois de sua primeira participação, ocorrida quando lançava seu livro “A Louca da Casa”, depois reeditado pela Todavia.

Mediador da mesa, o editor e jornalista Paulo Roberto Pires esteve em todas as edições da Flip e lembrou que esta obra de Montero, em 2004, causou estranhamento aos leitores brasileiros ao misturar história, reflexão e devaneios num tipo de texto que ela chama de “artefato literário”.

Depois de ter mais de 100 mil exemplares de seus livros vendidos no Brasil, as loucurinhas de Montero causam mais identificação que estranhamento, e sua presença na festa arrastou uma multidão para a plateia da tenda principal e do auditório aberto na praça do centro histórico de Paraty.

“Vocês são as pessoas mais carinhosas do mundo”, disse ao público entre os aplausos iniciais. “Muitos abraços a todos. Abraços curativos.”

Numa conversa descontraída e cheia de histórias saborosas, Rosa contou que começou a escrever aos cinco anos de idade e que a escrita se tornou “uma espécie de exoesqueleto” que a manteve de pé ao longo da vida.

Aos 16 anos, no entanto, a jovem Montero passou a ter ataques de pânico, numa sequência que durou até os seus 30 anos, e cujo fim ela associa diretamente ao início da publicação de sua obra ficcional.

“Na minha época e classe social, que era pobre, não se levava as pessoas a psiquiatras. Eu tive a primeira crise e não sabia o que acontecia comigo, então comecei a estudar psicologia, que abandonei no quarto ano da faculdade”, contou ela. “A partir dos 30 anos, não tive mais essas crises. Por quê? Porque comecei a publicar ficção.”

“Aquilo que mal chamamos de loucura é uma sensação de solidão que não é compreensível e que não se pode explicar. Quando se tem um transtorno mental, o que está acontecendo com você não acontece a mais ninguém, e você se converte em um marciano.”

A escritora contou que, aos poucos, foi perdendo o medo. “E esse interior mais profundo, a lava que a gente tem no interior do coração, saquei e trouxe para o exterior por meio da ficção”, disse. “O bilhete premiado é escrever ficção, publicar e que alguém a leia. E isso é muito estrutural. Acho que a maioria dos escritores sente que, se não escrevesse, enlouqueceria.”

Em seu livro “O Perigo de Estar Lúcida”, da Todavia, Montero traz estatísticas sobre a maior incidência de transtornos mentais entre pessoas criativas e, dentre elas, especialmente entre os escritores. “As fronteiras da realidade são flutuantes, e realidades paralelas fazem parte da tentativa de descrever o mundo. Nós, escritores, temos mais tendência de sofrer transtornos mentais e há mais suicídios entre os escritores”, afirmou.

“Eu detesto essa maneira de dizer que, para ser escritor, é preciso sofrer muito. Mentira. Quanto menos sofrermos, melhor.” A espanhola falou de uma de suas grandes obsessões, a morte. “O tema principal das minhas novelas é a morte, mas também o sentido da vida. Eu escrevo contra a morte.” Para ela, é preciso chegar a um acordo com a morte para alcançar uma vida “mais serena, ligeira e plena”.

Ela se referia também à morte de seu companheiro, Pablo, em 2009, após uma relação de 21 anos, e que deu origem ao livro “A Ridícula Ideia de Nunca Mais te Ver”, da Todavia.

“Sou incapaz de escrever uma novela sobre a minha vida a quente. Preciso deixar as coisas esfriarem”, afirma ela, que conta ter ganhado de sua editora, após dois anos de viuvez, o diário da cientista Marie Curie sobre a morte de seu marido. “Era o grito de animal ferido”, definiu.

E o texto a despertou para escrever sobre o seu luto. “Passados dois anos da morte de Pablo, consegui escrever sobre ela. Mas não me recuperei. Você nunca se recupera de um luto desses. Você inventa uma outra vida para você.”

Apesar disso, Montero diz ter a sensação de “vitalidade plena”, ainda que alguns ataques de pânico às vezes apareçam. “Se esses ataques de pânico são o preço a pagar pela intensidade da minha vida, então não me importo com eles.”



FONTEUOL

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