Arcebispo de Vitória, Dom Frei Dario, e os bispos de Colatina e São Mateus, Dom Joaquim e Dom Paulo Bosi, assinam o documento

Os bispos da Arquidiocese de Vitória, Dom Frei Dario Campos, da Diocese de Colatina, Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias, da Diocese de São Mateus, Dom Paulo Bosi Dal’Bó, e o administrador diocesano de Cachoeiro de Itapemirim, padre Walter Luiz Barbiero Milaneze Altoé, divulgaram nesta sexta-feira (16) uma carta com “reflexões importantes para o discernimento do voto consciente, fruto do nosso compromisso batismal”. Eles fazem uma breve análise de conjuntura da situação do Brasil e do mundo em meio à pandemia da Covid-19, além de defender que, diante do processo eleitoral, os católicos avaliem de forma criteriosa os candidatos. O documento aponta que a pandemia “acirrou o cenário que já se apresentava de desigualdades sociais, provocando uma crise econômica mundial, intensificando a miséria, que se faz ver claramente no quadro alarmante da fome e da inexistência de teto para todos. Somando ainda a estas dramáticas consequências, nota-se o incremento das políticas do ódio e da violência, o aprofundamento de práticas racistas, xenófobas, homofóbicas, machistas e de aniquilamento das políticas sociais”.
Em relação à postura dos católicos nas eleições, a carta afirma que é preciso avaliar os candidatos, “suas histórias e suas propostas, porque o voto tem consequências políticas, sociais, culturais, econômicas, ambientais”. E ainda que “as eleições municipais que se aproximam são uma oportunidade para encontrar caminhos que ajudem os municípios a superarem o momento difícil que atravessamos como cristãos e cidadãos. Pois todos somos responsáveis pelos candidatos que escolhemos e corresponsáveis com o que será feito, passadas as eleições, em nossos municípios”.
Entre as reflexões que os bispos e o administrador diocesano ressaltam como necessárias para que os católicos escolham seus candidatos estão a verdade e o bem comum, a liberdade e a democracia, a solidariedade e o enfrentamento à fome, a “chaga” da corrupção e a missão do leigo e da hierarquia da Igreja. A verdade e o bem comum, segundo a carta, devem levar em consideração que “o debate eleitoral deve ser feito a partir de propostas concretas que visem o bem-estar de toda a população, e não apenas de um grupo específico”.
Assim, aponta o documento, “não cabe em uma disputa eleitoral cidadã a mentira, o ódio e a intolerância”. Os cristãos devem “rejeitar as notícias mentirosas, os discursos de ódio e as práticas de racismo, intolerância e criminalização da pobreza”, não sendo possível que “católicos votem em candidatos que alimentam e fortalecem políticas do ódio, difundem notícias falsas e que sobrevivem às custas da violência que os mais pobres enfrentam todos os dias”. 
Quanto à liberdade e a democracia, a carta defende que “não podemos abrir mão de nossa liberdade de pensar, de falar e de votar. Da mesma forma que não podemos abrir mão da participação nos mandatos executivos e legislativos por meio de canais e instrumentos, já previstos em lei e outros, que precisam ser apresentados pelos candidatos. Qualquer proposta política que ameace a democracia deve ser rejeitada pelos cristãos católicos e os candidatos comprometidos com a democracia devem apresentar propostas concretas que viabilizem a escuta e a participação popular ao longo de seus mandatos”. 
No que diz respeito à solidariedade e ao enfrentamento à fome, o documento destaca que a pandemia fez com que a renda dos riscos aumentasse e a dos pobres diminuísse, além de ter acontecido a desvalorização do salário mínimo e redução do poder aquisitivo dos trabalhadores. “No momento em que o país bate recordes de produção de grãos, a cesta básica fica mais cara, aumentando o flagelo da fome. Neste contexto surgem candidatos que se utilizam da miséria dos pobres para efetuarem a sua promoção política pessoal. Estes candidatos não merecem ser eleitos. Diante da fome, as campanhas assistenciais são necessárias, contudo, a fome precisa ser enfrentada com propostas concretas de políticas públicas que diminuam as desigualdades sociais, gerando emprego e renda”. 
Outro item apontado na carta é o que as autoridades religiosas chamam de “chaga da corrupção”, que, para eles, “é uma praga que corrói o tecido político e social do país, sendo uma das causas da miséria que se abate sobre o povo”. Os religiosos salientam que “pouco tem sido dito ou feito sobre o enfrentamento à corrupção no país, como se ela estivesse acabada. Muitos, que em um passado recente faziam discurso de enfrentamento à corrupção, estão hoje emudecidos, fazendo vistas grossas”.
O documento também destaca que a corrupção “está aí, com práticas cada vez mais explícitas e hediondas, inclusive se manifestando ao longo do processo eleitoral”. E acrescenta: “há muitos candidatos que sequer sabem as atribuições de vereadores e de prefeitos. Para se enfrentar a corrupção, não podemos alimentar a troca de favores, votar atendendo a vontade de quem ocupa lugares de comando ou dos que se apresentam como pessoas acima do bem e do mal. O critério fundamental para se combater a corrupção é efetuar um voto ético, que defende a justiça social e o bem comum”. 
Na parte referente à missão do leigo e da hierarquia, é destacado que a Igreja proíbe a candidatura ou a participação político-partidária dos padres, reservando esta missão para os leigos, de maneira que os padres devem evitar apresentar-se como candidatos, apoiar ou participar de atividades de candidatos ou partidos durante o período eleitoral. Da mesma forma, orienta os leigos que disputarão as eleições a se afastarem das atividades litúrgicas e pastorais durante o período eleitoral, devendo retornar às mesmas após as eleições, qualquer que tenha sido o resultado”. 
Cartilha de Orientação Política 2020
Os bispos e o coordenador diocesano afirmam na carta que, ainda neste período eleitoral, será lançada a Cartilha de Orientação Política 2020. “Tradicionalmente, no período eleitoral, a Arquidiocese de Vitória e as Dioceses de Cachoeiro de Itapemirim, Colatina e São Mateus apresentam aos fiéis materiais com orientações práticas para a escolha de candidatos e candidatas. Tais orientações estão sempre em comunhão com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil [CNBB], que nos ensina que a política é a forma mais sublime de exercer a caridade'”, reforçam.