Se o executivo municipal sofre com os efeitos das enchentes, imagina o cidadão

A cidade passou por uma das piores enchentes da história no final de janeiro, dezenas de pessoas ficaram ilhadas, algumas sem moradia, outras perderam seus veículos, comerciantes tiveram seus pontos invadidos por lama, e o pior deste filme de terror é saber que o fim não chega com as águas indo embora.

Mimoso do Sul tem um orçamento anual médio de 90 milhões, e uma extensão territorial gigante, que coloca o município em 14º lugar no ranking dos maiores do Espírito Santo. São 867.281 km² e grande parte disto em estradas rurais. Parece que a conta não fecha “né”? Há mais de vinte anos escutamos diversos prefeitos fazendo a velha analogia do “cobertor curto”, afirmando que ao “cobrirem a cabeça, destapam os pés”.

Ponto 1 – Todos, absolutamente todos eles, assumem o importante cargo sabendo que o orçamento do município é de fato apertado. Não existe mágica! Em um lugar onde o desenvolvimento econômico não acontece e a economia depende diretamente dos cofres públicos, fica extremamente desafiador realizar qualquer coisa. A prefeitura é o maior e um dos poucos empregadores da cidade. O fomento para a criação de empregos até acontece, mas os resultados práticos não aparecem e a dependência nunca diminui.

Há poucos meses o Tribunal de Contas do Estado informou que nove prefeituras tendem a descumprir os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), após as perdas de receita com o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS). É o que mostra estudo técnico elaborado pelo Núcleo de Controle Externo de Avaliação de Tendências e Riscos (Natr), do TCE-ES. São elas: Barra de São Francisco, Conceição da Barra, Pancas, Apiacá, Bom Jesus do Norte, Água Doce do Norte, Mimoso do Sul, Pedro Canário e Santa Maria de Jetibá.

Ponto 2 – Com a dependência da população em relação ao município, criou-se uma cultura onde boa parte dos cidadãos esperam que a prefeitura resolva todos os seus problemas. E não é exagero! Calçadas, pequenas praças, becos, cantinhos que poderiam ser cuidados pelos próprios moradores ficam completamente abandonados a espera da gestão municipal. Raríssimos são os eventos culturais 100% organizados pela sociedade e sem investimento dos cofres públicos. Mimoso tem enorme apelo turístico, e não existe um projeto privado para explorar esta potencialidade. Tudo, absolutamente tudo depende da iniciativa pública. As cidades ao nosso redor que mais se desenvolvem já provaram que basta uma comunidade organizada e motivada para que o desenvolvimento aconteça.

A enchente

Ninguém pode com a força da natureza! Isto é inquestionável. Numa cidade com extensão territorial tão grande, um acontecimento deste tira o sono de qualquer prefeito. Não tenhamos dúvidas. O dia a dia de uma prefeitura com orçamento baixo já é desafiador em um cenário “normal”, imaginemos numa situação como esta. Acontece que o cidadão não tem apenas a memória curta, mas a paciência também.

As águas descem, a lama fica, seca, vira poeira, e a cidade, que convenhamos, já não estava a mais linda do Estado, fica ainda pior. O comerciante precisa vender, clama por um calendário de eventos que impulsione a atividade comercial. O morador quer uma cidade limpa, sem poeira por todo lado, com uma praça legal para levar seus filhos, e uma forma eficiente de acalmar esta ansiedade é com um calendário de ações transparente. Quando a praça central estará 100%? Limpa, pintadinha, com o asfalto “brilhando”, sem este cenário marrom pós enchente? A autoestima do cidadão move o lugar! O exercício é pensar no mimosense que vive na cidade e não tem a possibilidade de passear em outros lugares. Na verdade, a tarefa é fazer com que o vizinhos queiram passear aqui.

E isto é culpa do Peter? Óbvio que não. Mimoso vem passando por um processo estranho há muitos anos. Parece que as coisas não acontecem. O prefeito mais jovem do Estado assumiu revolucionando a cidade. Impressionou até a oposição. Alguns diziam que o ritmo estava acelerado demais, que seria difícil manter, outros afirmavam que a velocidade seria aquela durante os quatro anos. Não é fácil! Ser analista de sofá é muito mais simples, contudo é preciso que seja dado o recado. Qual o prejuízo causado pelas enchentes? Com quanto o Governo Estadual irá ajudar? O Governo Federal entrará com algo? Quando Mimoso estará impecável? A equipe, que aliás trabalha muito, precisa de prazo para dar resposta. O povo precisa de prazo para sonhar, para sorrir, para se motivar.

O debate não é e nem pode ser eleitoral, mesmo que o ano que vem esteja “logo ali”. Todas as forças precisam se unir para que a cidade de Mimoso saia deste cenário marrom e fique azul de alegria.